COLECIONADORES DE LUXO

Bruno Mendonça e Eliná Enrique

Os motivos que levam alguém a colecionar são tão numerosos quanto os são os colecionadores. Há, porém, um motivo comum a todos: o desejo de possuir, ordenar e preservar bens. Esse desejo se realiza com a contemplação da coleção, que é tanto mais admirável quanto mais completa. Se a completude é causa de admiração, o que pode motivar alguém a formar uma coleção?

Essas foram questões levantadas por Magnólia Costa, filósofa e crítica de arte atualmente responsável pela área de pesquisa e publicações do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo),em seu texto crítico para a exposição “A Coleção” do artista plástico Pazé na Galeria Triangulo em São Paulo em meados de setembro de 2009.

Se pensarmos na cultura de luxo atual a obra proposta por Pazé e as indagações de Magnólia Costa são muito interessantes no sentido de sugerir uma reflexão sobre o ato de possuir que atualmente é tão valorizado, pois na cultura contemporânea você não “é”, você “tem”.

O mercado de luxo está tão inerente ao ato de colecionar que isso é inclusive utilizado como proposta mercadológica por profissionais de marketing e comunicação de grandes marcas na hora de promover uma ação estratégica com seu target principalmente em segmentos que esse tipo de relação com o “produto” é valorizada.

Mercados como o de artes plásticas (galerias de arte, leilões e salões), moda e design estão entre os mercados em que o ato de colecionar é muito praticado, embora nichos como o de automobilismo e cosmética (perfumes) e bebidas é de conhecimento público estratégias de colecionismo como proposta de segmentação.

No caso o colecionismo no mercado de luxo está completamente alinhado à criação de produtos identificados como “raros”, “exclusivos”, “customizados” ou em edições limitadas. Esse tipo de estratégia dá margem a um novo público que busca diferenciação e sofisticação.

Para Magnólia Costa o ato de colecionar está completamente ligado ao medo do efêmero, que tem algo de “virtual” de certa forma. O colecionador preza pelo ato de tornar físico e palpável o que pode ser fugaz e dessa forma possuir algo espetaculoso e único, isso se conecta a idéia de individualidade e originalidade.

No caso a obra de Pazé trás a tona todos esses questionamentos tão presentes na nossa cultura contemporânea,que é gerida por um sistema focado no capital, relacionando-se assim a vontades de adquirir, possuir, comprar e preservar, pois é uma sociedade baseada com foco nos “bens” materiais, proposto pelos movimentos econômicos.

Mesmo trabalhando no âmbito das artes plásticas e operando sua obra como uma certa “crítica” a esse sistema que também encontra-se inserido no mundo capitalista e que atualmente é reconhecido como mercado, Pazé vai além propondo apontamentos para outras áreas.

Relacionando essa “crítica” como forma de reflexão para a essas novas táticas de marketing, principalmente no campo do mercado de luxo, podemos perceber que atualmente “o colecionador” existe e cada vez mais ele será explorado afinal o luxo é para poucos assim como uma coleção nunca é igual a outra, os “colecionadores de luxo” não conhecem o lema “menos é mais”.

Como disse a jornalista Cynthia Garcia - "Quem cultua e curte sua coleção, não tem limites. Viaja o mundo procurando aquele exemplar e paga por ele o valor que for exigido, sem discussão. Não há racionalização. A relação com o colecionismo é puramente emocional. A Mari Nigri, dona do restaurante Quatrino, em São Paulo, é obcecada por bolsas Louis Vuitton. Ela tem todas, não importa o modelo nem o estilo. Ela tem que ter todas".

Além de Mari Nigri, outro caso interessante citado por Cynthia é o de Marta Schultz, assessora de imprensa de marcas premium, que coleciona perfumes, ela chega a ter mais de 871 frascos. Sua coleção começou com uma caixa de cinco fragrâncias do perfume "Maxim's". A última aquisição foi "Woman", de Versace. Da colega Andréa Ciaffone, Marta ganhou recentemente uma nova versão de uma linha especial da artista francesa Niki de Saint Phalle. E finaliza: "Quando comecei a coleção, era difícil conseguir bons perfumes. Com a liberação da importação, ficou mais fácil achar miniaturas realmente valiosas. Além disso, muita gente sabe que eu coleciono, então sempre ganho novos frascos".

Relógios, moedas, facas, modelismo, embalagens de cigarros, canivetes, cartazes antigos, cartões, selos, bonecas, carros, bolsas, revistas,... tudo pode ser colecionado. Basta existir interesse e paixão pelo objeto. E a jornalista Cynthia se aprofunda ainda mais no assunto: "O colecionismo é um dado de refinamento, individualidade e também traz à tona a questão da obsessão. Está associado a valores que não têm nada a ver com preço, por isso tem tudo a ver com o Luxo. O colecionador 'viaja' no valor agregado. Mais importante do que o dinheiro gasto, é que há valores históricos e de tradição. Não interessa se a marca ou o objeto cultuado tem seis ou 350 anos".

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Bruno Mendonça


Eliná Enrique