ENTREVISTA

Giuliano Donini
     

ENTREVISTA ANTENNAWEB
GIULIANO DONINI - MARISOL

O profissional, de 33 anos, participou de muitas das recentes mudanças da empresa Marisol, incluindo as aquisições das marcas Pakalolo e Rosa Chá, além das aberturas de lojas da grife infantil Lilica Ripilica em conceituados pólos de moda mundiais como Milão e Espanha. Sucessor de um dos principais empresários do País, Vicente Donini – que presidiu a companhia por mais de 12 anos – Giuliano Donini pretende dar continuidade a história de sucesso e consolidação da Marisol liderada pelo ex-presidente.

Na Marisol desde 1999, o legatário já atuou  como analista de mercado e produtos, diretor-executivo da divisão de calçados, diretor-comercial e diretor de marketing.
O administrador participou ativamente das principiais mudanças de diretrizes do grupo, principalmente no que se refere a internacionalização das marcas
e a implantação do processo de tornar a Marisol uma gestora de marcas e de canais de distribuição no segmento da moda.


A Marisol tem um posicionamento que fez dela uma referência no mercado de moda. Quais foram as principais estratégias desenvolvidas para atingir esse posicionamento?

A indústria do vestuário é nômade, por natureza. A dependência de grande contingente de mão-de-obra influencia diretamente isso. Ainda, vivemos um momento muito particular do poder migrando para o varejo. O resultado é uma competitividade e uma perda de rentabilidade muito acelerada. A leitura deste cenário e a perspectiva de se aproximar do consumidor final, afim de melhor entendê-lo para poder estudar e oferecer alternativas que atendam os seus anseios nos levou a se aproximar do varejo e da gestão de canais de distribuição. Essas ações permitiram construir uma imagem mais clara na mente do consumidor, que passou a entender e reconhecer a identidade de marcas que gerimos.

Quais seriam, especificamente, as principais ações que vocês desenvolveram junto ao consumidor final?
Algumas das ações que mais deram repercussão junto ao consumidor final:
- desfile em uma das semanas de moda brasileira, o Fashion Rio, que ajudou a posicionar a marca em um meio até então não comum;
- estabelecimento de parcerias como a participação efetiva no desfile com Walter Rodrigues e o lançamento de uma linha LILICA RIPILICA por ROSA CHÁ;
- lançamento de revista de relacionamento;
- aceleração nas ações dos clubes de relacionamento;
- crescimento da rede de lojas, que ajudou a evidenciar melhor o posicionamento das marcas.

E quais ações foram desenvolvidas especificamente para os canais de distribuição?
A segmentação das ações não são diretas. Como trabalhamos com alguns tipos de canais de vendas, a associação e interligação das ações são importantes e com isso estas ficam muito vinculadas as marcas.
De toda forma, é muito importante. Além disso, o canal de maior visibilidade no momento são as lojas franquiadas, que por serem exclusivas, é muito fácil a confusão, por vezes proposital e invariavelmente inevitáveis. Portanto uma ação da marca e uma ação do canal, são praticamente as mesmas coisas.
O que o canal ajuda sim é a segmentar, qualificar e individualizar o público consumidor e, por consequencia, passa a ser o mais atingido pelas ações diretas.

Quais são as vantagens e os desafios que uma empresa industrial da área de vestuário enfrenta quando resolve entrar no varejo?

O ponto mais relevante é a mudança de mentalidade. São culturas muito diferentes, e migrar de uma realidade para outra não é simples, demanda muito esforço de todos. Temos uma história industrial de muitos acertos e mudar ou ampliar o foco, significa praticamente começar de novo. Reiniciar não é fácil para quem já estabeleceu um amadurecimento em uma expertise. Varejo tem uma ótica diferente, nem melhor nem pior, apenas diferente. Telvez começar um negócio novo seja menos difícil, mas resolvemos migrar de um modelo que funcionava bem, para um novo. Requer muita atenção, humildade para aprender e persistência.

Quais são as principais características que a Marisol leva em conta para considerar a aquisição de uma marca? No caso das marcas Rosa Chá e Pakalolo, por exemplo, quais foram os fatores analisados e os fatores determinantes para que a aquisição se concretizasse?

Cada vez mais o tempo é escasso para tudo o que objetivamos. Portanto, todo e qualquer negócio tem de ter coerência com o que fazemos e com o que enxergamos para o futuro. Uma marca nova passa a interessar quando se encaixa no nosso planejamento, quando ajuda na estratégia do todo.

Pakalolo representava um desafio em particular, que nos colocava frente a frente com um mercado potencial e desafiador, o mercado jovem. Estamos dando passos importantes na retomada desta que foi um dos maiores ícones de uma geração. Rosa Chá por sua vez se alinhava muito com nossa visão de internacionalização de marcas, que já havíamos iniciado com Lilica Ripilica. É uma marca incrível, com um reconhecimento que extrapola fronteiras, com uma identidade muito peculiar, que tem ainda muito espaço para se desenvolver.

Qual o objetivo da internacionalização da Marisol, ou seja, qual o foco (imagem, experiência, retorno financeiro)? Quanto isso é importante para as marcas adquiridas e para o portfólio de marcas da empresa?

Partimos da perspectiva de que a economia brasileira não acaba em si, mas sim é parte integrande de uma economia globalizada. Queremos e vendemos todas as marcas que gerimos também no exterior, mas são as marcas Lilica Ripilica e Rosa Chá que decidimos internacionalizar. Internacionalizar para nós significa construir mercados com a marca, pensar e implementar canal de distribuição, em especial monomarca, amadurecer nosso conhecimento sobre mercados e produtos.

Lógico que o retorno financeiro é um dos grandes objetivos, mas não o único. A experiência adquirida com os erros e acertos em mercado maduros é sempre muito importante para a contínua necessidade de consolidação da marca. A loja da Lilica Ripilica de Milão, por exemplo, pela sua própria localização, na Via della Spiga, um dos endereços mais importantes do mundo da moda, evidentemente traz, além do incrível  posicionamento, uma oportunidade de aprendizado único, pelo contato que tem com o crítico e experiente consumidor italiano. Movimento similar esperamos com a abertura da loja da Rosa Chá de Nova Iorque, na West Broadway, prevista para meados deste ano.

É possível às empresas de moda e vestuário competir no mercado internacional com o dólar no nível atual? Caso, como parece, essa tendência tenha vindo para ficar, qual a saída para as empresas?

Esse câmbio é um dificultador, porque se soma a uma série de outras características estruturais internas, não competitivas para um exportador. Esses fatores precisam ser avaliados para aumentar o poder de competição da indústria nacional. Enquanto isso, o que se deve perseguir é construir marcas e negócios com muita identidade, em torno de um conceito forte, para que conquiste espaço na mente de consumidores de outros países. O desafio é grande, incerto, mas, realmente acreditamos ser possível.

 
 

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